A profecia é um banho de sangue.

Um novo Carandirú. Tudo caminha para um banho de sangue. Um evento que a sociedade parece estar exigindo, a imprensa está apoiando e fomentando. As matérias mostrando um cenário social de alívio e gratidão nas áreas liberadas está um tanto forçada demais. São reportagens cheias daqueles clichês que fabricam comoções a partir de pequenos eventos.

Não estou dizendo que não existem manifestações de apoio nas áreas deflagradas, mas também existem manifestações de moradores apavorados com as consequências do embate que se aproxima, e isto, contudo, ninguém mostra. É preciso ser muito manipulado pela mídia para não imaginar que as pessoas que estão entre tanques, granadas de policiais e facínoras de sandália havaiana e AK47 não estão se borrando de medo e olhando para o berço de suas crianças com pavor. Meus irmãos, o Complexo do Alemão não é a vizinhança cenográfica de Passione! Haverá holocausto de inocentes!

Chego a pensar que a classe média é muito mais entusiasta das ações que ora se avizinham do que os moradores do locais. Até porque não são os Charles Bronson de sofá que vão ver os Urutus, as granadas e balas de calibre militar passando a metros de sua janela, tendo de contar para a sua proteção tão somente com paredes tão finas que não suportam o peso de um gancho de rede.

Todo mundo quer estes bandidos em cana. Todos estão satisfeitos com as operações de inteligência que está bloqueando e drenando o ar financeiro desta gente. Todos estão apoiando as medidas de exceção que recaem sobre as regras de seus recolhimentos. Contudo, porque não se aproveita o embalo para endurecer as leis que permitem visitas com contato físico a bandidos condenados por crimes vinculados a organizações criminosas? Por que estes os líderes e participantes de organizações criminosas contam com regalias como visita intima, indultos, redução de pena, etc. Porque não cortar as fontes de comunicação e financiamento desta gente, não como medida de exceção, mas como regra! Porque não há prisão perpétua e trabalhos forçados para líderes que mataram direta ou indiretamente centenas de pessoas? Tenho a impressão que uma batalha neste front reduziria em muito a criminalidade, visto que asfixiaria a organização criminosa, além de acabar com a corrupção de policiais e agentes de justiça que são coniventes e lucram com a prisão de grandes chefes do tráfico. Ações efetivas e sem balas perdidas atingindo inocentes, apenas algumas autoridades corruptas.

A profecia é esta. Muitos corpos nas ruas. Um novo Carandirú, mas com uma grande diferença. Para cada corpo de bandido, iremos ver dezenas de corpos de crianças, trabalhadores, inocentes. Que tipo de cristão não ficar preocupado e aflito com isto?

Na verdade, já há corpos de inocentes no Instituto Médico Legal. A imprensa não mostra, a notícia futura é tentadora e desejada. Mas não se iludam, quando o impacto passar, depois do recolhimento da massa humana que sobrar, veremos as viúvas, as mães, os pais, os filhos... A mídia terá de mostrar. Ou você acha que os mais de 50 corpos atuais são apenas bandidos e policiais?

O território deve ser tomado. Os bandidos devem ser presos. Se regirem à bala, devem receber o mesmo tratamento. Contudo, creio que devemos dar uma chance a uma solução pacífica, com uma proposta de rendição negociada com calma. Não sendo possível, as medidas para a proteção de inocentes devem ser eficazes. Afinal, as próprias autoridades concordam que as ações recentes e as reações dos bandidos não eram previstas. Foram decisões tomadas no calor da batalha. Além do planejamento. Portanto, é justo admitir que não houve tempo de tomar medidas de proteção dos civis. Não é inteligente ganhar algum tempo, negociar rendição e preparar a proteção mais efetiva dos moradores, no caso do embate inevitável?

Eu já fui vítima da violência. Fui assaltado, sofri agressão. Perdi bens. Perdi amigos. Enterrei vítimas. Quero que o império da crime acabe, ou no mínimo assuma níveis aceitáveis internacionalmente. Estou cansado de morar entre grades, enquanto os bandidos andam soltos. Quero o direito de ir e vir, de dia e de noite. Contudo, como cristão tenho de temer pelas vidas dos envolvidos neste embate.

Pr. Antônio Carlos Costa repetiu uma frase que algumas autoridades, cidadãos, policiais e jornalistas estão usando para racionalizar o banho de sangue que se avizinha: Muitos dizem “Não se faz um omelete sem quebrar alguns ovos”, contudo quem conhece o pai que concordará que o ovo quebrado seja o seu próprio filho, afogado no próprio sangue, morto por uma bala perdida?"

Como Cristãos, por maior que seja o medo, a raiva e as lembranças que temos como eventuais (se não somos todos) vítimas da criminalidade, devemos orar pela vida.

Aqueles que neste momento gritarem: Mata, mata! Poderão se ver diante da imagem de centenas de corpos de inocentes. Portanto, muito cuidado antes de gritar Barrábas, mais tarde poderá ser surpreendido com noticia de que ajudou a condenar um inocente à morte!


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